Encruzilhadasconvergências e dispersões o tema do VIII Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – ANPARQ, desta vez intitulado ENANPARQ8, remete aos caminhos que se cruzam, à marca geográfica que “assinala um lugar ou dele toma posse”, ao encontro de rotas, à busca de novos percursos e também às múltiplas escolhas que surgem de um mesmo ponto. São escolhas que dizem respeito ao ambiente, às sociedades atuais, ao modo como produzimos e interpretamos o mundo. O evento, portanto, se propõe a subsidiar essas escolhas, por meio de discussões embasadas na ciência, na racionalidade, no reconhecimento das diversidades, na sensibilidade, na empatia e no respeito às tradições e à memória. A encruzilhada também representa a esquina carioca, lugar em que se entrecruzam tradições de diferentes origens e tipos. O ENANPARQ8 propõe, assim, explorar novos caminhos a partir desse ponto que examina a que veio, o que virá a ser, e as alternativas que permitem mudar destinos e histórias. 

O questionamento acerca das relações entre as diversas temáticas e os desafios que a arquitetura e o urbanismo vem enfrentando para compreender, encerrar, desenvolver e reestruturar as pesquisas sobre o ambiente construído, e a prática contemporânea sobre ele, tem se espraiado em diversas abordagens sobre projeto urbano, arquitetônico e paisagístico, tecnologias do projeto e da construção, gestão do processo de projeto da concepção à execução, cultura,  história, crítica, teoria, preservação e restauração, patrimônio,  e, decerto, muitas outras, que precisam estar alinhadas com o ensino e a extensão

Deste ponto, é importante colocar que vivemos e pensamos espaços, mas estes não mais tratados em uma estrutura única, e sim de forma difusa e complexa por suas dimensões políticas, sociais e culturais. A discussão sobre os limites e os pontos de ultrapassagem de nossa atuação como arquitetos e urbanistas está relacionada diretamente à assunção de um novo habitante das cidades, que precisa atuar e operar habilidades em sintonia com diversas possibilidades de relação entre o real e o ficcional, o digital e o analógico, ou o global e o local. Assim, foram pensados os eixos temáticos deste encontro, comportando diferentes objetos específicos na multiplicidade de temas. Nessa fronteira cada vez mais permeada pelas diferentes realidades, entre as necessidades de convívio com o concreto e o virtual, do efêmero e do permanente, a área de Arquitetura e o Urbanismo surge como fortalecedora e estruturadora da base espacial para onde tudo converge.

Projeto e Planejamento do Ambiente Construído

Coordenadores: José Júlio Lima (PPGAU/UFPA),  Luciano Muniz (PPGAU/UFF) e Marta Peixoto (UFRGS)

O eixo discute questões relacionadas às possibilidades do projeto como instrumento de pensamento, debate e construção da cidade. Inclui também as políticas públicas de planejamento e as ações de agentes privados nas transformações do ambiente. Envolve as práticas de ensino e aprendizagem, como ateliês, workshops e práticas extensionistas, e os métodos de pensamento projetual, quer através de processos experimentais ou tradicionais. Os desafios atuais do projeto como método de pensamento e ação sobre o mundo incluem levar em conta as diferentes escalas de relações espaciais, materiais, sociais e biológicas, ao mesmo tempo entendendo as limitações e as contingências que são partes integrais da ação projetual.

Paisagens, Territórios e Espaços Públicos

Coordenadores: Danielly Cozer Aliprandi (IFF), Jonathan Magalhães da Silva (PPGAU/PUC-Campinas) e Milena Kanashiro (UEM/UEL) 

O eixo lida com o espaço transformado pelas práticas  humanas em suas inúmeras escalas e complexidades, construído a partir da cultura, das relações sociais, da economia e da política. Compreende discussões acerca das dinâmicas socioculturais que promovem transformações  da arquitetura das cidades e dos territórios onde se inserem. Trata das institucionalizações do espaço por diferentes agentes públicos e privados que resultam em diversos regramentos sobre a ocupação e produção desse espaço. São incentivadas ainda as pesquisas sobre os diferentes aspectos socioespaciais da dimensão pública e suas relações identitárias e subjetivas. Serão discutidas as diferentes formas da atuação junto à sociedade no sentido de construir de forma coletiva e democrática os espaços públicos e as paisagens que eles estruturam, seja por debates acerca de esferas simbólicas, éticas, estéticas ou morfológicas, considerando as práticas extensionistas como um mote importante. Os questionamentos sobre o cotidiano e também o futuro da vida nas cidades, a partir da revisitação de antigas abordagens, assume papel fundamental para os trabalhos neste campo.

Tecnologias, Processos e Desempenho

Coordenadores: Celina Britto Correa (UFPel), Marcio Minto (IAU-USP) e Rubens Carvalho (UFF) 

O eixo acolhe as discussões e as pesquisas e práticas extensionistas que ampliam a reflexão sobre os modos de fazer, registrar, mensurar e operar sobre o espaço. Trata-se de um espaço para ressaltar também a diversidade de modos e as relações de convergência e conflito entre eles, entendendo as técnicas, métodos e processos como partes integrantes e específicas de cada cultura e visão de mundo. Incorpora também importantes iniciativas de tradução tecnológica que permitem ampliar o acesso e a capacidade de atuação sobre o mundo contemporâneo. Para além de importantes avanços recentes, trata-se ainda do limiar de um momento de validação e aprendizado com culturas tradicionais e marginalizadas, observando diferentes abordagens tecnológicas como diferentes filosofias. São encontros e interlocuções que incentivam a redefinição das métricas a serem registradas e dos parâmetros a serem computados.

História, Patrimônio e Crítica

Coordenadores: Adriana Mara Vaz de Oliveira (UFG), Maria Cristina Cabral (UFRJ) e Rodrigo Baeta (UFBA)

O eixo tem como mote a reflexão histórica em arquitetura e urbanismo como mote, entendendo as múltiplas interpretações da história e de suas representações, bem como as mudanças epistemológicas que modificam o próprio discurso sobre o tema. Tem na crítica a chave interpretativa dos objetos arquitetônicos e das ações urbanas, de modo a incentivar a discussão pública sobre o ambiente construído a partir de fundamentações argumentativas teoricamente coerentes e socialmente relevantes. Inclui também as discussões sobre as relações com os objetos do patrimônio cultural, os valores a eles atribuídos e as ações de gestão, conservação e preservação. Inclui a exploração das questões relacionadas com os acervos e com as fontes documentais e iconográficas. Traz ainda as ações de educação patrimonial e histórica como importantes ferramentas de fomento à formação de atores sociais mais efetivos no diálogo com o poder público e o restante da sociedade, em conjunto com as demais práticas extensionistas. O eixo compreende a interlocução entre métodos novos e tradicionais, os diálogos entre fontes e entre autores, as trocas interculturais, a atenção a diferentes vozes da narrativa histórica e a própria noção de história e patrimônio frente à aceleração das transformações do ambiente.

Teorias e Métodos no Campo Ampliado

Coordenadores: Fabiola do Valle Zonno (UFRJ), Ricardo Trevisan (UnB) e Rita Velloso (UFMG)

O eixo aborda a questão dos limites e expansão da prática da arquitetura e da produção da cidade, colaborando com a diversidade de olhares e experiências, por meio da pesquisa e da extensão. O eixo abrange discussões emergentes no campo da arquitetura e do urbanismo, com experiências liminares e discussões ainda em formação. Palco preferencial de noções liminares e em formação, receberá contribuições a partir de combinações disciplinares ainda pouco exploradas, tanto do ponto de vista da elaboração teórica e conceitual quanto das experiências de interlocução com a sociedade.

Práticas contra-hegemônicas e Insurgências

Coordenadores: Gleice Elali (UFRN), Maria de Lourdes Zuquim (USP) e Rodrigo Rinaldi (UFRJ)

O eixo trata das questões que envolvem o “fazer cotidiano” das cidades, partindo tanto da pesquisa quanto da extensão. Nele, são interrogadas as relações entre o indivíduo e o poder público por meio do espaço público, fomentando noções de agenciamento e responsabilidade cívica, incentivando maior participação na vida pública e ampliação das possibilidades de interlocução das instâncias políticas decisórias com diversos grupos sociais. Pertencem a este eixos os conflitos entre instituições e coletividades, assim como as fricções entre as experiências de subversão do ordenamento cotidiano e o próprio ordenamento como valor cívico.

Vulnerabilidades e Crise Socioambiental

Coordenadores: Angélica Alvim (UPMackenzie), José Almir Farias (UFC) e Vera Tângari (UFRJ)

O eixo visa discutir as questões relativas às diversas possibilidades do viver urbano contemporâneo e aos dilemas enfrentados no ambiente construído frente às modificações ambientais trazidas pela humanidade ao planeta nas últimas décadas. O objetivo é também fomentar a discussão sobre a distribuição assimétrica de oportunidades, aumento de riscos ambientais e outras desigualdades espaciais, além de abordagens sobre questões da micro e macro estrutura de funcionamento urbano (esgotamento, drenagem, conforto ambiental, entre outras), por meio das práticas de pesquisa e de extensão. Trata-se também de elemento central das encruzilhadas contemporâneas, que coloca em questão o modo de vida atual e traz a dimensão da justiça espacial como elemento chave para a prospecção de novos modos de viver no planeta.

Direitos, Identidades e Diversidades

Coordenadores: Diane Helene Ramos (UFAL), Maíra Machado Martins (PUC-Rio) e Silke Kapp (UFMG)

O eixo explora a variedade de métodos, questões e tópicos quando diferentes grupos e atores sociais desenvolvem e implementam planos, projetos e atividades em arquitetura e urbanismo na luta por direitos e por uma cidade inclusiva. Encorajamos artigos sobre pesquisa e pedagogia em arquitetura e urbanismo que abordem questões de justiça, equidade, inclusão e cuidado relacionadas com gênero, raça, etnia, pessoas com deficiência e classe. Interessam também debates sobre projeto participativo e colaborativo enquanto instrumento de resistência e ação coletiva por direitos, práticas colaborativas e de co-criação, interação entre universidade e sociedade, assessoria técnica, e autogestão.